O seguro viabiliza novas tecnologias para a transição climática
O Brasil destaca-se no G20 pela matriz elétrica limpa, e o setor ganha relevância ao apoiar tecnologias sustentáveis e oferecer proteção contra riscos climáticos. Por: André Cordeiro (*)
O Brasil está entre os países mais bem posicionados para liderar a transição energética global. Enquanto o setor de energia responde por 73% das emissões globais de gases de efeito estufa, aqui esse número é de apenas 23%, reflexo de uma base sólida: cerca de 90% da matriz elétrica brasileira vem de fontes renováveis — como hidrelétrica, eólica e solar. Somos o país do G20 com a matriz mais limpa e, em 2023, investimos mais de US$ 34 bilhões no setor, o sexto país em investimentos na transição energética naquele ano.
Nesse contexto, à medida que o mundo avança rumo ao net zero, o setor de seguros desponta como um agente crítico para viabilizar tecnologias sustentáveis e mitigar riscos associados. Inicialmente, algumas frentes se destacam, como o desenvolvimento de seguros voltados a painéis solares, turbinas e veículos elétricos; a criação de novas formas de proteção, como seguros paramétricos para riscos físicos; e a oferta de serviços de resiliência e consultoria em gestão de riscos climáticos.
A maturidade das coberturas varia. Já há produtos para tecnologias como solar e eólica, mas, para baterias de veículos, infraestrutura de recarga, hidrogênio verde e CCUS (Carbon Capture, Utilization and Storage, em inglês), as soluções ainda estão em fase inicial. A demanda, no entanto, é crescente — especialmente por coberturas para construção, operação e responsabilidade civil.
Os desafios também são importantes e concentram-se no incipiente histórico de perdas em tecnologias novas e falta de dados confiáveis para subscrição. Superá-los exige inovação em modelos de subscrição e parcerias estratégicas para captação alternativa de recursos que forneçam capacidade de resseguro.
No cenário internacional, a transição climática exigirá uma realocação histórica de capital: estima-se um investimento global anual de US$ 9,2 trilhões em ativos físicos — o equivalente ao PIB do Japão e da Alemanha somados, ou nove vezes o orçamento anual do Brasil.
Apesar da crescente mobilização de recursos, muitos projetos enfrentam dificuldades de viabilização devido ao alto risco e à falta de instrumentos adequados de mitigação. O setor segurador pode e deve ser um dos pilares dessa transformação, contribuindo para uma economia mais resiliente, sustentável e preparada para os desafios do clima.
(*) André Cordeiro é superintendente de Estratégia de Mercado, Qualidade e ESG da Tokio Marine Seguradora